Contratransferência
O Cliente Como Espelho do Terapeuta Holístico
Henrique Vieira Filho – CRT 21001 – Terapeuta Holístico
Palestra – Congresso Holística 2012
CRT – Conselho de Auto Regulamentação da Terapia Holística
Resumo
Esta propositura disserta sobre a importância para o Terapeuta Holístico em compreender o fenômeno da transferência / contratransferência, bem como ressalta que, conforme as técnicas adotadas pelo profissional (especialmente, a terapia corporal, a terapia tântrica e o trabalho com dependentes químicos), as consequências podem ser ainda mais complexas.
Introdução
Ainda que ocorra em inúmeros relacionamentos (professores & alunos, médicos & pacientes, líderes & colaboradores, sacerdotes & devotos, mestres & discípulos, etc, etc…), devemos à Psicanálise a teorização desse fenômeno, que a detectou na dinâmica entre Terapeuta & Cliente.
Sua conceituação passou por várias revisões e complementações através dos anos.
Transferência é a vivência de fortes sentimentos do Cliente deslocados para o profissional, no relacionamento terapêutico. São elementos reprimidos, muitas vezes, infantis, que ganham nova expressão no espaço emocional, criado pelo encontro “Profissional – Cliente”, sem que este tenha consciência do fenômeno em questão.
Assim sendo, sobre o Terapeuta, o Cliente “projeta” muitas figuras de seu mundo interno (reprimido e inconsciente) e cada vez que se refere a pessoas de seu passado ou do seu presente, pode estar também falando também do Terapeuta, que nesse momento, por diversos motivos, aparentemente se transforma nessa pessoa: ora, aparenta ser ameaçador, ora objeto de amor, tais como pai ou mãe, ou qualquer outro ser significativo da sua vida com as características do que dela foi registrado no inconsciente.
Conjuntamente ou após superadas as resistências iniciais do Cliente (exemplos: será que isto vai me ajudar?; é só falando que vou conseguir resolver meus problemas?; não será que ele ou ela é muito jovem (ou muito velho) para me entender?) aí, sim, começa o processo transferencial e, geralmente, o analisando vê seu analista já como um pai (ora severo, ora indulgente, ora omisso), ou como uma mãe com suas (ora protetora, ora severa , ora negligente…).
O Cliente, ao projetar no Terapeuta tais personagens de sua história, vive esses momentos com intensa realidade, se irrita ou busca mais carinho e proteção.
Numa direção paralela, temos os sentimentos despertados no profissional pelo Cliente, que Freud denominou CONTRATRANSFERÊNCIA.
O Terapeuta é um ser humano, com seus próprios problemas, conflitos e características de personalidade.
Cada um de nós tem sua própria história, seus conflitos infantis, e sua conduta (mais ou menos também conflitiva ) e sua forma particular de interpretação, ou seja, como todo ser humano, igualmente vulnerável, sensível, vaidoso, ambicioso, invejoso, que ama e odeia, que ainda que capacitado para sua prática terapêutica, também sente, segundo as circunstâncias, carinho, afeto, rejeição, tédio, frente ao que seu Cliente fala, relata, apresenta, projeta nele/nela (transferência), e se irrita, fica entediado, sente empatia e segundo o material da temática tratada, se angustia e sofre.
O Profissional, é claro, tem obrigação técnica e ética de estar treinado para tudo isso, porém não poucas vezes tem que pensar e repensar numa interpretação, talvez produto de seus próprios conflitos e personalidade, ou procurar supervisão para esse caso ou situação.
Isto é a Contratransferência, importante elemento do tratamento, que quando não bem conhecido ou ignorado, pode levar a graves erros terapêuticos. Também quando bem interpretado, pode se tornar um valioso instrumento para compreender melhor o que está acontecendo numa situação ou em um tratamento.
Devemos lembrar que assim como existem transferências resistenciais, amor de transferência, idealização do profissional e outras nuances, estas são próprias deste tipo de tratamento, e também existem nos Terapeutas, que tem o recurso de se corrigir procurando ajuda de seus colegas, supervisão e até uma outra análise a mais.
Há tanto a projeção “positiva” (amor, carinho…), quanto “negativa” (ódio, raiva…) e faz parte do processo. Cabe ao Profissional ter consciência disso e perceber, por exemplo, que um(a) cliente apaixonado(a) por quem lhe atende é tão somente uma transferência e não um sentimento duradouro; o mesmo se dá na fase do cliente “odiar” seu analista, momento em que o Terapeuta Holístico terá que re-experimentar suas dores mais profundas, ligadas à rejeição sentida quanto criança.
É fundamental para o Terapeuta Holístico compreender o fenômeno da transferência / contratransferência, pois ocorrerão independente de quais técnicas sejam adotadas nos atendimentos.
Outrossim, em algumas vertentes terapêuticas, as consequências podem ser ainda mais complexas, como é o caso da terapia corporal, da terapia tântrica e do trabalho com dependentes químicos.
II – Material e Metodologia
II.I – Definições
ACONSELHAMENTO — processo interativo, caracterizado por uma relação única entre Terapeuta Holístico e cliente, levando este ao autoconhecimento e a mudanças em várias áreas, sendo as mais comuns: comportamento, elaboração da realidade e/ou preocupações com a mesma, incremento na capacidade de ser bem-sucedido nas situações da vida (aumento máximo das oportunidades e minimização das condições adversas), além de conhecimento e habilidade para tomada de decisão. O Aconselhamento é parte integrante do trabalho de todo verdadeiro Terapeuta, independentemente de quais outros métodos adote.
BIOENERGÉTICA —Terapia neo-reichiana desenvolvida por Alexander Lowen; discípulo de Reich, introduziu conceitos próprios contrastantes com a rigidez da vegetoterapia clássica.
CALATONIA —técnica especial de toques manuais sutis, geralmente nos pés ou nas mãos, que visa não somente uma relaxação psico-física, como, também, o despertar de material psíquico inconsciente para ser trabalhado em Terapia Holística.
CATARSE — extravasar de emoções, sentimentos, lembranças que permaneciam reprimidas, possibilitando ao vivenciá-las conscientemente, comumente acompanhado de INSIGHTS, resultando em alívio e ampliação do autoconhecimento.
CLIENTE — usuário de serviços de Terapia Holística, em pleno gozo de suas faculdades mentais que, a seu juízo, ou, quando for o caso, mediante autorização de seu representante legal, aceita a prosposta de trabalho terapêutico apresentada pelo profissional.
DEPENDÊNCIA QUÍMICA (Síndrome da Dependência Química, Drogadição) — considerada uma DOENÇA e, como tal, somente pode ser diagnostica e tratada por médicos, em especial, os psiquiatras. Caracteriza-se pelo consumo freqüente, compulsivo e descontrolado de substâncias, visando aliviar sintomas de mal estar e desconforto físico e mental, reconhecidamente acompanhados por síndrome de abstinência, problemas psíquicos e sociais. Quando se trata de Terapia Holística, o trabalho deve focar no atendimento ao CLIENTE e não à “dependência química” em si, pois ao definir tal estado como sendo “doença” e vincular seu trabalho a esta questão, equivale a confessar crime de exercício ilegal de medicina, já que tanto o diagnóstico, quanto o tratamento de doenças são monopólios da classe médica, segundo as leis em vigor e jurisprudência (casos julgados)… Tudo isso pode ser evitado, simplesmente mantendo o foco naquilo que somos: TERAPEUTAS HOLÍSTICOS, os quais, por definição, jamais tratamos “doenças” (no caso, a dependência química…) e sim, cuidamos do indivíduo, em seu TODO, e, como tal, a questão das drogas, se trazida pelo Cliente, será mais um dos múltiplos aspectos a serem considerados e trabalhados, no transcorrer da Terapia.
ID — é a estrutura da personalidade original, básica e mais central, exposta tanto às exigências somáticas do corpo como aos efeitos do ego e do superego.
INSIGHT — “lampejos” repentinos de uma consciência maior (quer seja sob a forma de lembranças ou de imagens simbólicas a serem decifradas) que possibilita apreender na forma de síntese uma série de fatores até então não compreendidos.
LEITURA CORPORAL — método de avaliação onde a interpretação do formato corpóreo ou de seus gestos, posturas e movimentos é capaz de expressar sua história de vida ou, até, mesmo, seus próprios sentimentos e pensamentos.
NARCÓTICOS ANÔNIMOS (N.A.) — grupos de ajuda para drogaditos, onde não se objetiva, em si, uma proposta de terapia; outrossim, oferecem um plano eficiente para a recuperação diária, por meio de uma série de atividades pessoais conhecidas como Doze Passos (adaptados dos Alcoólicos Anônimos). Algo enfático no programa é o chamado despertar espiritual, ressaltado como valor prático e não sua importância filosófica ou metafísica. Encoraja cada membro a cultivar um entendimento pessoal, religioso ou não, de um despertar espiritual. Nas reuniões, cada membro partilha experiências pessoais com os outros participantes buscando ajuda, simplesmente como pessoas que tiveram problemas similares e encontraram uma solução. Narcóticos Anônimos não têm terapeutas, não oferece moradia, não encaminha o dependente para clínicas ou para serviços médicos. A coisa mais próxima do que eles chamam de conselheiro do programa de NA é o padrinho ou madrinha, um membro experiente que oferece ajuda informal aos membros mais recentes. No grupo, a recaída é vista como uma parte necessária no processo de adicção/recuperação para muitos indivíduos.
PERSONA — é a nossa máscara ou o papel social do indivíduo, isto é, o mediador que protege o sujeito em suas relações.
PSICANÁLISE — método terapêutico iniciado por Freud que consiste fundamentalmente na interpretação, por um analista, dos conteúdos inconscientes de palavras, ações e produções imaginativas de um indivíduo, com base nas associações livres e na transferência.
PSICOTERAPIA HOLÍSTICA — procede ao estudo e à análise do cliente, realizados sempre sob o paradigma holístico, cuja abordagem leva em consideração os aspectos sócio-somato-psíquicos. Atua dentro de uma proposta de transcendência dos limites da personalidade, conectando o cliente consigo mesmo, trazendo à consciência aspectos de seu “eu” mais profundo, integrando-o, ainda, com seu próprio corpo, sociedade e universo; as sessões são realizadas individualmente ou em grupo, utilizando técnicas tais como terapia corporal, relaxamento, terapia transpessoal, neurolinguística, parapsicologia, regressão, terapia floral, vivências, dentre outras, como forma de introdução a estados profundos de autoconsciência e, desse modo, permitir o aflorar tanto de emoções reprimidas, lembranças traumáticas e sonhos (para serem trabalhados na Terapia Holística), quanto o despertar de uma sabedoria interior e intuitiva no cliente, capaz de orientá-lo na tomada de decisões ou, até mesmo, na resolução de questões de saúde.
PSICOTERAPIA PSICODINÂMICA — com embasamento teórico similar ao da Psicanálise, uma das diferenciações é que o terapeuta participa mais ativamente, valendo-se de um amplo repertório de intervenções para promover conversações que conduzam a novos insights e catalizar mudanças, tais como:
Questionar o Cliente, pedir-lhe dados precisos, ampliações e aclarações do relato; explorar em detalhe suas respostas;
Proporcionar informações, em especial, sobre os procedimentos que constituem a psicoterapia;
Confirmar ou retificar os conceitos do Cliente sobre sua situação ou sobre a realidade externa;
Clarificar, reformular o relato do cliente, de modo a que certos conteúdos e relações do mesmo adquiram maior relevo;
Recapitular, resumir pontos essenciais surgidos no processo exploratório de cada sessão e do conjunto do tratamento;
Assinalar relações entre dados, os temas, as suas seqüências, e capacidades manifestas e latentes do Cliente (ou seja, conscientes e inconscientes);
Interpretar o significado dos comportamentos, motivações e finalidades latentes, em particular os conflituosos;
Sugerir atitudes determinadas, mudanças a título de experiência, ou novas medidas terapêuticas, quando se mostrar necessário.
RELAXAMENTO — vários métodos são utilizados para a obtenção de uma relaxação muscular e psíquica, dentre eles a Massagem, a Musicoterapia, a Cromoterapia, a Cristaloterapia, a Acupuntura e a sugestão verbal. Ver, também, Vivências.
RESISTÊNCIA — atitudes e verbalizações do Cliente, as quais, fazem oposição ao acesso de seu inconsciente, ou impede o retorno do material reprimido. Por extensão, Freud falou de resistência à psicanálise, para designar uma atitude de oposição às suas descobertas, na medida em que elas revelam os desejos inconscientes e infligem ao homem um “vexame psicológico” ao contrariar os seus valores (ideal de ego). Os conceitos de defesa e resistência se confundem e se sobrepõem às vezes, pois uma grande parte da resistência é derivada da defesa (recalques, sintomas derivados da deformação e ganhos primários e secundários de manter o estado atual – gerando a resistência contra à mudança).
Uma das classificações mais adotadas quanto às Resistências:
De 1o. nível: tentam impedir qualquer acesso ao inconsciente:
Acting Out – Agressividade ao receber uma pergunta do terapeuta, negando-se a responder de forma incisiva.
Fugir do consultório – sair mais cedo, faltas às consultas, ao perceber que terá que falar de algo que não deseja enfrentar.
Benefícios diretos e indireto sem manter o quadro atual. Exemplo: receber carinho e atenção.
“Amnésia” – esquecimento do tema que foi levantado pelo terapeuta.
Reação Terapêutica Negativa – piora ao invés de melhora no quadro, uma vez que o Cliente não se permite abandonar a culpa.
De 2o. nível: após a quebra (acesso ao conteúdo do inconsciente), elas surgem por contra-investimento do Cliente, impedindo o retorno do conteúdo reprimido:
Formação Reativa – atos extremados de contra-investimento: puritanismo, pudor exagerado, “condenando” o conteúdo antes aflorado.
Idealização – exaltação de pessoas, engrandecendo suas virtudes, para proteger o material reprimido que encobre as deficiências que todos notam, menos aquele que idealiza, como a mãe que protege o filho desajustado.[
Atuação – representação auto-ilusória, negando suas emoções, desejos e lembranças. Exemplos: _Nunca sentiria raiva, sou uma pessoa evoluída!
Intelectualização – justificativas racionalizadas que encobrem o desejo reprimido, para explicar por que tomou ou deixou de tomar, esta ou aquela atitude.
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC) — resulta da combinação de um conjunto de técnicas objetivando a modificação de aspectos do pensamento (cognição) e do comportamento do indivíduo e, conseqüentemente, também dos sentimentos em relação aos outros e a si próprio. Trata-se de um modelo de interação psicoeducativa, no qual o terapeuta ocupa uma função muito mais diretiva e educacional que nas terapias baseadas no conhecimento psicanalítico.
Principais procedimentos na TCC:
Análise comportamental: registro dos pensamentos e comportamentos em associação com eventos desencadeantes;
Aproximação gradual: organização de tarefas na forma de etapas a serem cumpridas;
Formato experimental: o incentivo a experimentar mudanças.
O pensamento mal-adaptativo é identificado;
O pensamento é contestado;
Formas alternativas de pensar são trabalhadas;
São experimentadas novas formas de enfrentar situações.
Treinamento de relaxamento, para evitar a reação ansiosa;
Exposição, principalmente nos transtornos fóbicos, com o que se busca a dessensibilização;
Prevenção de resposta, principalmente nos rituais obsessivos, busca a supressão do ritual através do enfrentamento;
Parada do pensamento, que a utilização de um estímulo que ajude a interromper o pensamento obsessivo;
Treinamento de assertividade, utilizado especialmente para superar fobias sociais, com o objetivo de aumentar a confiança do cliente;
Autocontrole, que inclui o uso de automonitorização e o auto-reforço;
Manejo de contingências, ou seja, identificar e controlar comportamentos indesejáveis (por exemplo, explosões de raiva) e recompensar mudanças positivas;
Terapia de aversão, que é baseada no reforço negativo.
TERAPIA CORPORAL — uso de técnicas de toque, respiração, posturas e movimentos específicos, obtendo uma reestruturação corporal e, a partir daí, a conscientização e desbloqueio de conteúdos psíquicos traumáticos, a serem trabalhados verbalmente; toques aplicados pelo corpo obtendo relaxação, equilíbrio energético e, até mesmo, o aflorar de material psíquico reprimido. Existem incontáveis técnicas, sendo as mais conhecidas o Tui-Na, o Shiatsu e o Do-In.
TERAPIA EM GRUPO — as psicoterapias de grupo podem ser realizadas segundo uma orientação psicanalítica (psicoterapia analítica de grupo), segundo as técnicas psicodramática, transpessoal, gestáltica, TCC, ou outras. Estes grupos terapêuticos são geralmente heterogêneos, ou seja, formados por pessoas de diferentes origens e com diversos problemas. Há grupos homogêneos, formados por pessoas com problemas semelhantes, como os dependentes químicos; neste caso, a TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC) é a mais comumente utilizada. Por fim, existem as terapias que atendem a pessoas do mesmo grupo familiar, e que podem ser conjugais ou familiares. Estas também podem ser realizadas segundo várias orientações, inclusive a psicodinâmica. Entretanto, o modelo que foi desenvolvido especificamente para o atendimento de casais e famílias é o da terapia sistêmica.
TERAPIA SISTÊMICA — mais uma vertente de Terapia Em Grupo, focada mais para família e casais, indicada numa gama de situações em que os problemas são mais “relacionais” do que propriamente “psíquicos”, especialmente em situações de conflitos conjugais, geracionais, e resultantes de mudanças no ciclo de vida da família (nascimento, adolescência, separação, morte, doença grave, etc.).
TERAPEUTA HOLÍSTICO — procede ao estudo e à análise do cliente, realizados sempre sob o paradigma holístico, cuja abordagem leva em consideração os aspectos sócio-somato-psíquicos. Faz uso da somatória das mais diversas técnicas, pois cada caso é considerado único e deve-se dispor dos mais variados métodos, para possibilitar a opção por aqueles com os quais o cliente tenha maior afinidade: promove a otimização da qualidade de vida, estabelecendo um processo interativo com seu cliente, levando este ao autoconhecimento e a mudanças em várias áreas, sendo as mais comuns: comportamento, elaboração da realidade e/ou preocupações com a mesma, incremento na capacidade de ser bem-sucedido nas situações da vida (aumento máximo das oportunidades e minimização das condições adversas), além de conhecimento e habilidade para tomada de decisão. Avalia os desequilíbrios energéticos, suas predisposições e possíveis consequências, além de promover a catalização da tendência natural ao auto-equilíbrio, facilitando-a pela aplicação de uma somatória de terapêuticas de abordagem holística, com o objetivo de transmutar a desarmonia em autoconhecimento.
TERAPEUTA CORPORAL — promove a avaliação sócio-somato-psíquica do cliente fazendo uso da observação corpórea, postural, gestual, além de analisar sua constituição biotipológica, formas de respirar e de olhar, dentre outros aspectos, possibilitando a detecção de distúrbios energéticos e as tendências de psicossomatização; por meio de técnicas de massoterapia, reeducação respiratória e postural, aplicação de movimentos específicos milenares (tai-chi-chuan, yoga, chi kung, dentre outros) ou modernos (quiropatia, vegetoterapia, bioenergética, rolfing, biodança, dentre outros) promove ao cliente a conscientização e desbloqueio de conteúdos psíquicos traumáticos, a serem trabalhados verbalmente em processo interativo e único entre terapeuta e cliente, catalizando o autoconhecimento e mudanças em várias áreas, sendo as mais comuns: comportamento, elaboração da realidade e/ou preocupações com a mesma, incremento na capacidade de ser bem-sucedido nas situações da vida (aumento máximo das oportunidades e minimização das condições adversas), além de no conhecimento e na habilidade para tomada de decisões, pessoais e profissionais. Promove, também, grupos de movimento para harmonização e autoconhecimento, podendo os mesmos serem realizados a nível empresarial almejando um maior entrosamento entre equipes e diminuição de fatores estressantes. Em recursos humanos, pode auxiliar na avaliação das contratações e na percepção das aptidões dos candidatos, utilizando das técnicas de leitura corporal.
TERAPIA REICHIANA — desenvolvida por Wilhelm Reich, onde a intervenção corporal via toque é um dos principais fatores catalisadores do aflorar do material psíquico inconsciente, o qual será trabalhado verbalmente na Terapia Holística. Reich, Wilheim: psicanalista, discípulo dissidente de Freud, verificou que o inconsciente é corporal e que cada tipo de trauma é “gravado” na musculatura de partes específicas do corpo, criando “couraças musculares do carácter”, causadas pelo mal fluxo dos biofótons, por ele chamados de “orgone”.
TERAPIA TÂNTRICA — A Terapia Tântrica tem sua origem no conceito filosófico do Tantra. Diferenciando-se das técnicas tradicionais de terapias corporais. A técnica é direcionada a cuidar do fluxo da libido, sensorializando e sensibilizando a capacidade de sentir e do fluir. É uma oportunidade de conhecer os paradigmas do corpo através do fluxo da libido.
Tem por objetivo:
· Trazer consciência corporal.
· Despertar regiões sensoriais adormecidas.
· Conectar a respiração e a voz às sensações.
· Mudar os padrões energéticos, aumentando a quantidade de fluxo de energia.
· Liberar traumas e paradigmas.
· Mudar conceitos e idéias pré-estabelecidos que não permitam ampliar as possibilidades de prazer e êxtase.
· Desenvolver novas ferramentas de comunicação e expressão do afeto.
· Devolver a auto-estima e o amor por si mesmo.
TRANSFERÊNCIA E CONTRATRANSFERÊNCIA: Transferência é a vivência de fortes sentimentos do Cliente deslocados para o profissional, no relacionamento terapêutico. São elementos reprimidos, muitas vezes, infantis, que ganham nova expressão no espaço emocional,criado pelo encontro “Profissional – Cliente”, sem que este tenha consciência do fenômeno em questão. Numa direção paralela, temos os sentimentos despertados no profissional pelo cliente, que Freud denominou CONTRATRANSFERÊNCIA.
VIVÊNCIAS — realizadas individualmente ou em grupo, utiliza tanto da Terapia Corporal, quanto do Relaxamento como introdução a estados profundos de autoconsciência e, desse modo, permitir o aflorar tanto de emoções reprimidas, lembranças traumáticas e sonhos (para serem trabalhados na Terapia Holística), quanto o despertar de uma sabedoria interior e intuitiva no cliente, capaz de orientá-lo na tomada de decisões ou, até mesmo, na resolução de questões de saúde.
III – Resultados
Constatou-se um risco maior de complicações decorrentes do fenômeno transferência/contratransferência quando se trabalha com técnicas que envolvem o contato físico direto, bem como aquelas linhas terapêuticas focadas no problema com drogas, em especial, quanto o profissional passou pela mesma situação de vida.
Por sua forte corrente teórica psicanalítica, as técnicas corporais das linhas reichianas e neo-reichianas, tais como a bionergética, estudam a transferência / contratransferência, e, ainda que mais suscetíveis a este fenômeno (em comparação à Psicanálise “clássica”…), tradicionalmente saem-se bem nesse processo.
O mesmo não ocorre com os Terapeutas que atuam com manobras corporais de tradições seculares, tais como shiatsu, tuina, anma, seitai, sparsha, dentre outras, lamentavelmente, não costumam ter em sua pauta de estudos, sequer conhecimentos rudimentares de Psicoterapia, ficando sujeitos aos “apaixonamentos” e “ódios” transferenciais, já que desconhecem a teoria e, consequentemente, não os identificam, nem desenvolvem defesas, e, menos ainda, conseguem extrair um uso terapêutico destas ocorrências.
O CRT – Conselho de Auto Regulamentação da Terapia Holístca vem detectando um aumento de cursos para “terapeutas em dependência química” realizados em entidades religiosas e que ensinam de forma totalmente inadequada às leis brasileiras e igualmente deixam de incluir o estudo do Aconselhamento e Psicoterapia. Comumente, estes profissionais tem sua origem justamente na superação pessoal de terem enfrentado a dependência química e, ao focarem seu público alvo justamente nos drogaditos, estão perante seus “fantasmas” interiores em tempo integral. Em tese, estão mais aptos do que qualquer outro profissional a compreender e vincular-se com o Cliente drogadito; por outro lado, vivenciam grande sofrimento ao contratransferir, por exemplo, perante cada “recaída” da pessoa atendida, além de tender a “nublar” a percepção da história de vida do Cliente, projetando a sua própria. Ainda assim, apesar de todos os inconvenientes acima descritos, grupos como o N.A. Narcóticos Anônimos são os que obtêm melhores resultados terapêuticos (do ponto de vista da sociedade…) nesta pauta.
Outro fenômeno recente é o aumento de profissionais que se auto-identificam como Terapeutas Tântricos. Tradicionalmente, o ensino e a prática tântrica era destinada a casais e, ainda que terapêutica, não era considerada uma terapia em si. Atualmente, existir um casal deixou de ser pré-requisito, passando um ou mais profissionais a somar os papéis de orientador e de parceiro no contato físico, em graus menores e maiores de intimidade, via de regra, sem incluir o coito em si.
Ainda que sem fundamento teórico psicanalítico, os que realmente estudaram os fundamentos da Terapia Tradicional Indiana (Ayuervedica) possuem uma versão “energética” da teoria da transferência/contratransferência, estando cientes da inevitável troca que ocorre entre Cliente e Terapeuta, especialmente ao mobilizarem a libido (energia kundalini) e, tanto desenvolvem “defesas” dessa influenciação, como igualmente possuem técnicas capazes de aplicar terapeuticamente a energia, em prol do equilíbrio e autoconhecimento.
Lamentavelmente, a nova geração de profissionais desta linha não foi preparada com tais conhecimentos milenares e, menos ainda, tiveram um embasamento em Psicoterapia. Perante este perfil, constata-se uma Clientela extremamente “flutuante”, que não parece criar um vínculo terapêutico duradouro, ao mesmo tempo em que profissionais abruptamente abandonam esta linha de atendimento, por não ter condições emocionais / energéticas de lidar com as inevitáveis (e, para a maioria, sequer estudadas…) transferências / contratransferências.
IV – Discussão
Grandes gênios da humanidade, como Freud, Jung e Ferenczi, que tanto contribuíram para o entendimento da psique, em seus atendimentos terapêuticos iniciais, sucumbiram aos ódios e amores, envolveram-se passionalmente com seus Clientes, sofreram com isso e causaram sérios prejuízos emocionais a estas pessoas e às de seus círculos. Pioneiros, desconheciam o fenômeno da transferência / contratransferência e só se deram conta ao sentirem em si e em sua Clientela, as consequências de ignorar.
Se intelectos privilegiados como os acima citados foram surpreendidos, imagine indivíduos comuns, como o somos nós, a grande maioria dos Terapeutas… A diferença é que, aqueles, por serem pioneiros, atuavam em território desconhecido, enquanto que nós, em pleno século 21, temos total acesso aos ensinamentos oriundos daqueles e de outros mestres, cabendo-nos a obrigação de conhecer, estudar e compreender as bases da Psicoterapia.
Situações transferenciais ocorrem em todas as terapias, inclusive, as que não fazem uso do toque, porém, é constatável que trabalhar o corpo amplifica a frequência e intensidade.
O mesmo se dá no sentido inverso, ou seja, com a CONTRATRANSFERÊNCIA.
Trabalhar a resistência à terapia e estar aberto a espelhar os papéis transferenciais (tais como pai, mãe, cônjuge, etc…), aparentemente, são mais facilmente aceitos pelo Terapeuta. Já o caminho oposto, a contratransferência, é mais “temida”, visto que não raro, escapa à percepção consciente do profissional, durante o atendimento, sendo melhor compreendida, sob supervisão de terceiros.
Há tanto a projeção “positiva” (amor, carinho…), quanto “negativa” (ódio, raiva…) e faz parte do processo. Cabe ao profissional ter consciência disso e perceber, por exemplo, que um(a) cliente apaixonado(a) por quem lhe atende é tão somente uma transferência e não um sentimento duradouro; o mesmo se dá na fase do cliente “odiar” seu analista, momento em que o Terapeuta Holístico terá que re-experimentar suas dores mais profundas, ligadas à rejeição sentida quando criança.
Nem a clássica e estereotipada postura do analista “distante”, protegido pelo distanciamento do divã, foi capaz de impedir sua ocorrência. Hoje em dia, sabemos que a contratransferência é inevitável e, portanto, deve ser aceita, estudada, compreendida e utilizada como instrumento de autoconhecimento e de aperfeiçoamento, inclusive, de nossos atendimentos.
Assim sendo, ainda que envolva (em tese…), riscos de intensificar a TRANSFERÊNCIA / CONTRATRANSFERÊNCIA, não há sentido para a Terapia Holística abrir mão dos recursos das técnicas em que ocorram contato direto com o Cliente.
Todas as tradições terapêuticas seculares, das mais variadas culturas, incluem trabalhos corporais, em especial, técnicas de toque. Originalmente de enfoque holístico, era parte integrante a premissa do ser como um contínuo físico-psíquico-social-transcendente e que, independente do caminho terapêutico escolhido, é ilusória a idéia de tratar um tópico “separadamente” do todo. Assim sendo, a intervenção corpórea implica em simultânea atuação no psiquismo, nas relações com a sociedade e em sua conexão com o universo que somos, cabendo integrar ao trabalho a necessária metodologia de amparar o Cliente nas consequências oriundas dos sentimentos e memórias evocadas pelo toque.
Minha experiência pessoal na Terapia Corporal iniciou com as técnicas manipulativas orientais (shiatsu e tuiná); contudo, mais do que “relaxamento”, comumente os Clientes experienciaram catarses emocionais. Ou seja, conhecendo ou não as teorias reichianas, sabendo ou não o que são “couraças”, estamos literalmente colocando nossas mãos no inconsciente de quem atendemos e irá aflorar o material psíquico reprimido.
A ausência do toque ou o abuso deste, especialmente na infância, é fator determinante em boa parte dos traumas de cada indivíduo. Daí a Terapia Corporal ser fundamental no resgate de muitas destas questões.
Em nosso corpo, “congelamos” a lembrança histórica e emocional de certas questões vividas e o toque, intencionalmente ou não, convida a re-experimentar as sensações bloqueadas e a expressar os sentimentos reprimidos. A tendência desta situação é regressiva, pois toca-se uma questão em aberto do passado, comumente convidado à criança interior a novamente aflorar.
Tal fator é ampliado porque o Terapeuta Holístico forma uma relação transferêncial com o Cliente, já que este tende a projetar no profissional, a persona de pai-mãe-cônjuge.
É preciso o entendimento do conceito de TRANSFERÊNCIA e assumir as responsabilidades dos efeitos do toque sobre a pessoa atendida. Por exemplo, ao atender um indivíduo em estado de carência, há de se preparar para a possibilidade de ser visto como um objeto de amor e, consequentemente, conscientizar-se de que tal relação culminará em dor.
Atentem que, numa relacionamento transferencial, o tocar pode ser interpretado de forma totalmente diversa da intenção original:
” … ao começar a trabalhar fisicamente com meus Clientes, sem perceber, eu procurava tocar a parte de trás do pescoço. Esse movimento inconsciente estava obviamente criando respostas diferentes em Clientes diversos. … Quanto toquei o pescoço de uma Cliente que havia sido abusada quanto criança, ela ficou assustada, como se eu fosse arrancar sua cabeça. O mesmo contato, de meu ponto de vista, com um Cliente mais dependente, fez com que ele desejasse apoiar sua cabeça em minha mão. Quanto toquei o pescoço de uma Cliente com muitas questões referentes ao controle, meu gesto estimulou sua paranóia e sua suspeita, como se estivesse sendo manipulada para fazer algo que não desejava.A resposta mais condescendente veio de um Cliente a meu toque foi ter dor no pescoço e sentir-se sobrecarregado. Toquei outro Cliente na parte de trás do pescoço e seu maxilar elevou-se com orgulho, como se eu estivesse dando tapinha em suas costas. Assim, quando toco os Clientes, eles têm uma resposta que vem de suas histórias individuais, do que o contatto significou para eles no passado e de sua transferência comigo…”
HEDGES, LAWRENCE E.; HILTON, ROBERT e HILTON, VIRGINIA W. – Terapeutas em Risco – Perigos da Intimidade na Relação Terapêutica, Summus Ed., 1997.
Claro que situações transferenciais como as acima descritas, igualmente ocorrem em terapias que não fazem uso do toque, porém, é constatável que trabalhar o corpo amplifica a frequência e intensidade. O mesmo se dá no sentido inverso, ou seja, com a CONTRATRANSFERÊNCIA.
O Terapeuta Corporal tem que estar disponível e preparado, inclusive, para ser tocado. Possibilitar ao Cliente ser capaz de contato físico adequado em ambiente seguro, é criar a oportunidade para a sua auto-recuperação, com a criança interior revivenciando de modo equilibrado e positivo, a ausência e/ou o abuso de contato ocorridos originalmente.
Nesse contexto, o Terapeuta Holístico, ao firmar o vínculo com seu Cliente, automaticamente abre mão de qualquer possibilidade de relacionamento amoroso/sexual com a pessoa atendida, pois, na maioria dos casos, o resultado traumático seria equivalente ao de um incesto.
Outrossim, este limite torna-se extremamente tênue quando de trata da Terapia Tântrica. O toque, ao buscar o livre fluxo energético, ao atenuar as couraças, ao mobilizar a libido, comumente conduz a sensações de prazer orgásticas (às vezes, literalmente…). Em tese, na hipótese de estar ocorrendo a transferência da figura paterna ou materna, pode equivaler a concretizar o complexo de Édipo / Electra e gerar as mesmas consequências emocionais de um “incesto”. O alto risco desta estratégia poderia resultar em grandes ganhos terapêuticos em alguns raros casos de exceção, mas, via de regra, o mais provável é uma grande desestabilização emocional tanto do Cliente, quanto do Terapeuta.
Felizmente, não tenho ciência de muitos casos onde o Cliente tenha experienciado a hipótese acima. Por ser uma proposta muito recente (ao menos, no atual formato de atendimento…), boa parte dos que procuram esta linha terapêutica, o fazem por curiosidade temporária, sequer chegando a criar um vínculo analítico com o profissional, resultando em poucas oportunidades de continuidade da proposta terapêutica.
Por outro lado, a fartura de reportagens sobre o tema, a oportunidade (consciente ou não…) de rendimentos maiores, resultou no aumento da procura por formação em Terapia Tântrica, e na diminuição do número de horas/aulas necessárias, antes de iniciar-se atendimentos profissionais. Paralelamente, da mesma forma que ocorreu com a “massagem”, houve e continua havendo uma grande migração de profissionais do sexo, quer por realmente desejarem mudar de ramo de atuação, quer por buscarem adaptar as técnicas à profissão que já exercem.
O alto custo dos cursos e atividades complementares propostos por inúmeros dos atuais mestres da Terapia Tântrica, favorece a precipitação de novos profissionais no mercado, atendendo prematuramente, para conseguir custear os aperfeiçoamentos, supervisões e locações das salas de atendimento, submetendo-se a uma Clientela movida em sua maioria pela curiosidade, ao invés de um real anseio por terapia. Boa parte dos colegas que conheci, atuantes de coração aberto e lotadas das melhores intenções, abruptamente abandonaram a proposta, tamanha foi a exigência emocional e energética de atuar nesta linha. A tese que levanto é que foram vítimas de sonegação de conhecimento; lhes foram negadas as informações e práticas de equilíbrio energético e ficaram totalmente de fora de suas formações, nem mesmo os mais rudimentares embasamentos da Psicoterapia, quanto mais, os fenômenos transferenciais.
Outro grupo profundamente bem intencionado, mas extremamente órfão de embasamento psicanalítico é o dos autodenominados Terapeutas Em Dependência Química.
Pertinente observar que, a drogadição é considerada uma DOENÇA e, como tal, do ponto de vista estritamente legal, só pode ser diagnosticada e tratada por médicos. Na prática, o tratamento oficialmente adotado é o de um trabalho multidisciplinar (médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais…), em estabelecimentos especializados, nos quais médicos psiquiatras diagnosticam e avaliam a necessidade ou não de internação (se voluntária, basta o aval do laudo psiquiátrico; se involuntária, além deste, igualmente é necessária uma ordem judicial).
Outrossim, os organismos que melhores resultados obtém, não funcionam no formato acima descrito, mas sim, atuam como organizações não-governamentais, onde não se assume papéis de médicos, nem psicólogos, nem de terapeutas, mas sim, de iguais, todos unidos pelo anonimato e por terem passado por experiências semelhantes. Este é o caso do N.A. – Narcóticos Anônimos, os quais, sem pretensões terapêuticas e de forma gratuita, cada membro apoia ao outro, e estabelecem metas a serem cumpridas, os assim chamados Doze Passos. Justamente o passo final é o de ajudar a todos quanto possíveis, a igualmente conseguir contornar o problema da dependência química.
Um formato “híbrido” dos dois acima, vem se proliferando na sociedade. Grupos bem intencionados, mas, comumente, ignorantes quanto à legislação que rege o tema, montam comunidades terapêuticas que se propõem a acolher e tratar, de forma remunerada, indivíduos com problemas relacionados ao abuso de drogas. Praticam uma somatória de técnicas comportamentais, mescladas com os ensinamentos dos Doze Passos. Boa parte das próprias pessoas tratadas, ao atingir o passo final, encontram-se na obrigação moral de ajudar aos demais e, ao mesmo tempo, necessitam de um papel produtivo e remunerado na sociedade, resultando numa demanda (rapidamente atendida…) por cursos de formação de “terapeutas em dependência química” (comumente ministrados em entidades religiosas e/ou nas próprias comunidades em que antes se trataram). Assim sendo, não raro por necessidades econômicas, passam a atender, de forma remunerada, aos colegas que estão passando pelos mesmos problemas que vivenciaram. Ou seja, dia após dia, Cliente após Cliente, todos são “espelhos” a recordar, o tempo todo, os traumas pelos quais o novo Terapeuta tão recentemente passou.
Por um lado, é reconhecido pela imensa maioria dos grandes nomes da Psicoterapia, a grande dificuldade do drogadito em transferir, fenômeno essencial para a evolução da terapia. A interpretação psicanalítica tradicional mais aceita é a de não ter conseguido introjetar uma figura materna, a qual substituiu pelo prazer das drogas. Ora, não havendo uma imagem maternal a projetar no analista, não raro igualmente transferem para estes a relação com as drogas, não estabelecendo vínculo afetivo, mas podendo criar uma “dependência”, muitas vezes extrapolando limites, procurando o terapeuta de forma desordenada, sempre que sentir necessidade, tal qual o faria, com as drogas.
O distanciamento profissional da postura psicanalítica clássica mostra-se pouco efeciente no trato com o drogadito. Por outro lado, alguém que passou exatamente pelos mesmos problemas consegue estabelecer um vínculo mais eficiente. Por este ângulo, a figura de um “Terapeuta Em Dependência Química” parece muito bem vinda a somar. Outrossim, ainda que bem intencionados, os cursos pouco somam de conhecimentos complementares, além dos Doze Passos, resultando em um profissional pouco mais preparado do que os gratuitos “padrinhos” no Narcóticos Anônimos.
Sem embasamento sobre TRANSFERÊNCIA / CONTRATRANSFERÊNCIA, este profissional sofre intensamente a cada recaída de seus Clientes, pois reverbera em suas próprias histórias de recaídas, sentirá compaixão além da terapia, capaz de amparar em sua casa, tal qual gostaria que tivesse acontecido, quanto aconteceu consigo; odiará o mal que o Cliente faz para si mesmo e para os outros, tanto quanto odeia o que ele próprio fez em igual situação…
Em um limbo intermediário, não é mais o gratuito e voluntário padrinho do N.A., nem igualmente atingiu o estágio de um Terapeuta profissional, visto que lhe foi sonegado o ensino das técnicas e a necessária supervisão.
Urge uma formação mais ampla para estes profissionais, em especial, as Terapias Cognitivas Comportamentais, muito úteis para cuidar dos momentos iniciais e de crise, que bem poderiam ser estendidas para Terapias Psicodinâmicas. Até mesmo a própria limitação de percepção tem que ser ampliada; uma vez superada a urgência e necessidade de retirar o Cliente de seu risco de morte, uma vez obtido o equilíbrio inicial, poderá exercer a TERAPIA HOLÍSTICA, em sim, na qual, por definição, jamais tratamos “doenças” (no caso, a dependência química…) e sim, cuidamos do indivíduo, em seu TODO, e, como tal, a questão das drogas, se trazida pelo Cliente, será mais um dos múltiplos aspectos a serem considerados e trabalhados, no transcorrer da Terapia.
V – Conclusões
É essencial o estudo e a compreensão da transferência e contratransferência, independente de quais técnicas serão exercidas.
Outrossim, tanto o contato físico (técnicas corporais e tântricas), quanto a identificação quase que absoluta do histórico de vida do Terapeuta e do Cliente (dependente recuperado tratando de drogadito), intensificam a relação transferencial.
A amplificação do inevitável fenômeno da transferência e contratransferência, se bem trabalhada, acelera o ritmo da terapia, mas igualmente aumentam o grau de responsabilidade e exigência técnica.
O que se constata na sociedade é um crescente número de indivíduos muito bem intencionados, ansiosos em atender terapeuticamente, mas que são lançados prematuramente no mercado de trabalho, privados de conhecimentos essenciais.
Os cursos tem a obrigação de incluir em suas grades curriculares os embasamentos da Psicoterapia, visto que o Aconselhamento é parte integrante da Terapia Holística e conhecer os fundamentos da Psicanálise, tais como a resistência e os fenômenos transferenciais, mais do que enriquecer a Terapia Holística, é essencial para o bem estar tanto dos Clientes, quanto dos Profissionais.
A melhor forma de preservar a integridade tanto de quem atende, quanto da pessoa atendida, é o profissional manter-se em constante reciclagem de aprendizado e em contínua terapia e supervisão.
O CRT – Conselho de Auto Regulamentação da Terapia Holística deve exercer seu papel de gerenciador do conhecimento coletivo e disponibilizar a todos os colegas a oportunidade de aperfeiçoamento profissional, para o bem tanto dos Terapeutas Holísticos, quanto de seus Clientes.
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Sobre o Autor:
Henrique Vieira FilhoTerapeuta Holístico – CRT 21001 |
Henrique Vieira Filho, além de Terapeuta Holístico, é artista plástico, agente cultural (SNIIC: AG-207516), produtor cultural no Ponto de Cultura “Sociedade Das Artes” (SNIIC: SP-21915), diretor de arte (MTE 0058368/SP), produtor audiovisual (ANCINE: 49361), escritor, jornalista (MTE 080467/SP), educador físico (CREF 040237-P/SP), psicanalista, sociólogo (MTE 0002467/SP), professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e em perícia técnica sobre artes.
Autor de inúmeros livros, centenas de artigos, ministra Cursos online. |
Cite como:
Henrique Vieira Filho. (2023). Contratransferência – O Cliente Como Espelho do Terapeuta Holístico. Revista TH, XII(79). https://doi.org/10.5281/zenodo.8150233
Henrique Vieira Filho é artista visual, agente cultural (SNIIC: AG-207516), produtor cultural no Ponto de Cultura “Sociedade Das Artes” (SNIIC: SP-21915), diretor de arte, produtor audiovisual (ANCINE: 49361), escritor, jornalista (MTB 080467/SP), educador físico (CREF 040237-P/SP) e terapeuta holístico (CRT 21001).
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